quarta-feira, 3 de setembro de 2008


Carta-desabafo-padrão

Fernanda Young


Nome da cidade, tanto de tanto de dois mil e tanto. Nome do destinatário. Envio esta carta porque nunca mais quero você na minha frente. E dessa vez falo sério. Nunca mais quero ouvir a sua voz, mesmo que seja se derramando em desculpas. Nunca mais quero ver a sua cara, nem que seja se debulhando em lágrimas arrependidas. Quero que você suma do meu contato, igual a um vírus ao qual já estou imune.
A verdade é que me enchi. De você, de nós, da nossa situação sem pé nem cabeça. Não tem sentido continuarmos dessa maneira. Eu, nessa constante agonia, o tempo todo imaginando como você vai estar. E você, numas horas doce, noutras me tratando como lixo. Não sou lixo. Tampouco quero a doçura dos culpados, artificial como aspartame.
Fico pensando como chegamos a esse ponto. Como nos permitimos deixar nosso amor acabar nesse estado, vendido e desconfiado. Não quero mais descobrir coisas sobre você, por piores ou melhores que possam ser. Não quero mais nada que exista no mundo por sua interferência. Não quero mais rastros de você no meu banheiro.
Assim, chega. Chega de brigas, de berros, de chutes nos móveis. Chega de climas, de choros, de silêncios abismais. Para quê, me diz? O que, afinal, eu ganho com isso? A companhia de uma pessoa amarga, que já nem quer mais estar ali, ao meu lado, mas em outro lugar? O tédio a dois - essa é a minha parte no negócio? Sinceramente, abro mão. Vou atrás de um outro jeito de viver a minha vida, já que em qualquer situação diferente estarei lucrando. Mas antes faço questão de te dizer três coisas.
Primeira: você não é tão interessante quanto pensa. Não mesmo. Tive bem mais decepções do que surpresas durante o tempo em que estivemos juntos.
Segunda: não vou sentir falta do teu corpo. Já tive melhores, posso ter novamente, provavelmente terei. Possivelmente ainda esta semana.
Terceira: fiquei com um certo nojo de você. Não sei por quê, mas sua lembrança, hoje, me dá asco. Quando eu quiser dar uma emagrecida, vou voltar a pensar em você por uns dias.Bom, era isso. Espero que esta carta consiga levantar você do estado deplorável em que se encontra. Mentira. Não espero nenhum efeito desta carta, em você, porque, aí, veria-me torcendo pela sua morte. Por remorso. E como já disse, e repito, para deixar o mais claro possível, nunca mais quero saber de você.
Se, agora, isso ainda me causa alguma tristeza, tudo bem. Não se expurga um câncer sem matar células inocentes.
Adeus, graças a Deus.Nome do remetente.P.S.: esta não é mais uma dessas cartas-desabafo.P.S. do P.S.: esta é uma carta-desabafo-quase-música-de-Adriana-Calcanhotto.

sexta-feira, 11 de julho de 2008


Hard Candy
Counting Crows

On certain Sundays in november

When the weather bothers me

I empty drawers of other summers

Where my shadows used to be

And she is standing by the water

As her smile begins to curl

In this or any other summer

She is something altogether different

Never just an ordinary girl


And in the evenings on Long Island

When the colors start to fade

She wears a silly yellow hat

That someone gave her when she stayed

I didn't think that she returned it

We left New York in a whirl

Time expands and then contracts

When you are spinning in the grip of someone

Who is not an ordinary girl


And when you sleep find your mother in the night

But she stays just out of sight

So there isn't any sweetness in the dreaming

And when you make the morning covers you with light

And it makes you feel alright

But it's just the same hard candy you're remembering again


You send your lover off to China

And you wait for her to call

You put your girl up on a pedestal

Then you wait for her to fall

I put my summers back in a letter

And i hide it from the world

All the regrets you can't forget

Are somehow pressed upon a picture

In the face of such an ordinary girl


And when you sleep you find your mother in the night

But she fades just out of sight

So there isn't any sweetness in the dreaming

And when you wake

The morning showers you feel alright

But it's just the same hard candy you're remembering again

segunda-feira, 30 de junho de 2008


Quando vier a primavera

Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte
Não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente,
Porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo,
Quando havia ela de vir senão no seu tempo?

Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar á roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


Fernando Pessoa

sábado, 21 de junho de 2008


Pra o Meu Consumo
Luiz Marenco

Têm coisas que tem seu valor

Avaliado em quilates, em cifras e fins

E outras não têm o apreço

Nem pagam o preço que valem pra mim


Tenho uma velha saudade

Que levo comigo por ser companheira

E que aos olhos dos outros

Parecem desgostos por ser tão caseira


Não deixo as coisas que eu gosto

Perdidas aos olhos de quem procurar

Mas olho o mundo na volta

Achando outra coisa que eu possa gostar

Tenho amigos que o tempo

Por ser indelével, jamais separou

E ao mesmo tempo revejo

As marcas de ausência que ele me deixou


Carrego nas costas meu mundo

E junto umas coisas que me fazem bem

Fazendo da minha janela

Imenso horizonte, como me convém


Daz vozes dos outros eu levo a palavra

Dos sonhos dos outros eu tiro a razão

Dos olhos dos outros eu vejo os meus erros

Das tantas saudades eu guardo a paixão


Sempre que eu quero, revejo meus dias

E as coisas que eu posso, eu mudo ou arrumo

Mas deixo bem quietas as boas lembranças

Vidinha que é minha, só pra o meu consumo

terça-feira, 17 de junho de 2008


8 Easy Steps
Alanis Morissette


How to stay paralyzed by fear of abandonment

how to defer to men in solvable predicaments

how to control someone to be a carbon copy of you

how to have that not work and have them run away from you


how to keep people at arms length and never get too close

how to mistrust the ones who supposedly love the most

how to pretend you're fine and don't need help from anyone

how to feel worthless unless you're serving or helping someone


I'll teach you all this in 8 easy steps

A course of a lifetime, you'll never forget

I'll show you how to in 8 easy steps

I'll show you how leaderships looks when taught by the best


how to hate women when you're supposed to be a feminist

how to play all pious when you're really a hypocrite

how to hate god when you're a pray-er and a spiritualist

how to sabotage your fantasies by fear of success


I'll teach you all this in 8 easy steps

A course of a lifetime, you'll never forget

I'll show you how to in 8 easy steps

I'll show you how leadership looks when taught by the best


I've been doing research for years

I've been practicing my ass off

I've been waiting my whole life for this moment, I swear to you

Culminating just to be this well versed leader before you


I'll teach you all this in 8 easy steps

A course of a lifetime, you'll never forget

I'll show you how to in 8 easy steps

I'll show you how leadership looks when taught by the best


how to lie to yourself and thereby to everyone else

how to keep smiling when you're thinking of killing yourself

how to numb a la holic to avoid going within

how to stay stuck in blue by blaming them for everything


I'll teach you all this in 8 easy steps

A course of a lifetime, you'll never forget

I'll show you how to in 8 easy steps

I'll show you how leadership looks when taught by the best

sábado, 14 de junho de 2008


A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas,
que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
Manoel de Barros

quinta-feira, 12 de junho de 2008


Al Lado Del Camino
Fito Paez

Me gusta estar al lado del camino

fumando el humo mientras todo pasa

me gusta abrir los ojos y estar vivo

tener que vérmelas con la resaca

entonces navegar se hace preciso

en barcos que se estrellen en la nada

vivir atormentado de sentido

creo que ésta, sí, es la parte mas pesada

en tiempos donde nadie escucha a nadie

en tiempos donde todos contra todos

en tiempos egoístas y mezquinos

en tiempos donde siempre estamos solos

habrá que declararse incompetente

en todas las materias de mercado

habrá que declararse un inocente

o habrá que ser abyecto y desalmado

yo ya no pertenezco a ningún istmo

me considero vivo y enterrado

yo puse las canciones en tu walkman

el tiempo a mi me puso en otro lado

tendré que hacer lo que es y no debido

tendré que hacer el bien y hacer el daño

no olvides que el perdón es lo divino

y errar a veces suele ser humano

no es bueno nunca hacerse de enemigos

que no estén a la altura del conflicto

que piensan que hacen una guerra

y se hacen pis encima como chicos

que rondan por siniestros ministerios

haciendo la parodia del artista

que todo lo que brilla en este mundo

tan sólo les da caspa y les da envidia

yo era un pibe triste y encantado

de Beatles, caña Legui y maravillas

los libros, las canciones y los pianos

el cine, las traiciones, los enigmas

mi padre, la cerveza, las pastillas

los misterios del whisky malo

los óleos, el amor, los escenarios

el hambre, el frío, el crimen, el dinero y mis 10 tías

me hicieron este hombre enrebelado

si alguna vez me cruzas por la calle

regálame tu beso y no te aflijas

si ves que estoy pensando en otra cosa

no es nada malo, es que pasó una brisa

la brisa de la muerte enamorada

que ronda como un ángel asesino

mas no te asustes siempre se me pasa

es solo la intuición de mi destino

me gusta estar al lado del camino

fumando el humo mientras todo pasa

me gusta regresarme del olvido

para acordarme en sueños de mi casa

del chico que jugaba a la pelota

del 49585

nadie nos prometió un jardín de rosas

al lado del peligro de estar vivo

no vine a divertir a tu familia

mientras el mundo se cae a pedazos

me gusta estar al lado del camino

me gusta sentirte a mi lado

me gusta estar al lado del camino

dormirte cada noche entre mis brazos

quarta-feira, 11 de junho de 2008


Flores do Asfalto
Zeca Baleiro

Os sinos dobram,

dobro a esquina adiante

O céu me espia

mais azul que antes

Os mortos andam

como eu nas avenidas

O sangue escorre

da mesma ferida


Ergo as mãos pro alto,

nos meus dedos os anéis

Flores crescem no asfalto,

debaixo dos meus pés


Tudo silencia,

ouço só meu coração

A rua acaba e meus sonhos vão

Piso na poça, uma moça estende a mão

Meus olhos brilham,

vejo o céu no chão


Ergo as mãos pro alto,

nos meus dedos os anéis

Flores crescem no asfalto,

debaixo dos meus pés


Deixo o dia para trás

Sono e sonho a noite me traz

Deixo o dia para trás

E a dor